quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Ami - O menino das estrelas - 2ª parte, cap 8, 9 e 10



Segunda Parte

Capítulo 8 - Ofir!

A neblina branca se evaporou. Uma atmosfera azul-celeste, de um tom forte, parecia flutuar ao redor, em vez de estar em cima, no céu, como na Terra; senti-me submerso em um azul quase fosforescente que não dificultava a visibilidade.

Das janelas vi pradarias banhadas por um alaranjado suave. Fomos descendo pouco a pouco; parecia uma maravilhosa paisagem de outono.

- Veja o sol -recomendou Ami. Um enorme círculo avermelhado se destacava no céu, tenuemente coberto pela atmosfera desse mundo. Formavam-se vários círculos ao redor daquele sol descomunal. Era umas cinqüenta vezes maior do que o da Terra.

- Quatrocentas vezes maior -corrigiu Ami.

- Não parece que é tão grande...

- Porque está muito longe.

- Que mundo é este?

- É o planeta Ofir... Seus habitantes são originários da Terra...

- O quê! -surpreendeu-me tremendamente essa afirmação.

- Existem tantas coisas que são desconhecidas no seu planeta, Pedrinho. Houve uma vez na Terra, há milhões de anos, uma civilização semelhante à sua. O nível científico daquela humanidade tinha ultrapassado muito o seu nível de amor, e como além disso eles estavam divididos, ocorreu o que era de se esperar...

- Se autodestruíram?

- Completamente... Unicamente sobreviveram alguns indivíduos que foram advertidos do que ia suceder e fugiram para outros continentes; mas foram muito afetados pelas conseqüências daquela guerra, tiveram que recomeçar quase do princípio. Você é o resultado de tudo isso; você é descendente dos que sobreviveram.

- É incrível; eu pensava que tudo tinha começado como dizem os livros de história, do zero, das cavernas, dos trogloditas... E as pessoas de Ofir, como chegaram até este planeta?

- Nós as trouxemos. Salvamos todos aqueles que tinham setecentas medidas ou mais, as boas sementes... foram resgatadas um pouco antes que se produzisse o desastre. Salvaram-se muito poucos, a média evolutiva daquele tempo era de quatrocentas medidas, cem menos que hoje em dia. A Terra evoluiu.

- E se acontecesse um desastre na Terra, vocês resgatariam alguns?

- Todos aqueles que superem as setecentas medidas. Desta vez há muito mais pessoas com esse nível.

- E eu, Ami, tenho setecentas medidas?

Ele deu risada da minha preocupação.

- Estava esperando a pergunta, mas já lhe disse que não posso responder isso.

- Como se pode saber quem tem setecentas medidas ou mais?

- É muito fácil. Todos aqueles que trabalham desinteressadamente pelo bem do próximo, têm acima de setecentas medidas.

- Você disse que todos procuram fazer o bem...

- Quando digo "o próximo", não quero dizer somente a própria família, o clube, o próprio grupo. E quando digo "bem", estou me referindo a tudo o que não vai contra a Lei fundamental do universo...

- Outra vez essa famosa lei; você pode me explicar agora qual é essa lei?

- Ainda não. Paciência.

- E por que ‚ tão importante?

- Porque quem não conhece essa Lei, não pode saber a diferença entre o bem e o mal. Muitos matam acreditando que estam fazendo o bem. Ignoram a Lei. Outros torturam, colocam bombas, criam armas, destroem a natureza pensando que fazem um bem. O resultado é que todos eles estão fazendo um grande mal, mas não sabem, porque desconhecem a Lei fundamental do universo... por isso, deverão pagar por suas violações à Lei.

- Nossa! Não teria imaginado nunca que fosse tão importante...

- Claro que é importante. É suficiente que as pessoas de seu planeta conheçam e pratiquem a Lei, para que seu mundo se transforme em um verdadeiro paraíso...

- Quando você vai me dizer qual é?

- Por enquanto, contemple o mundo de Ofir; tem muito para ensiná-lo, porque aqui todos praticam essa Lei.

Sentei-me numa poltrona perto dele para observar pela tela aquele maravilhoso planeta. Estava impaciente por ver os seus habitantes.

Íamos lentamente, a uns trezentos metros de altura. Observei muitos objetos voadores semelhantes ao nosso; quando se aproximaram, comprovei que tinham formas e tamanhos muito diferentes.

Não vi grandes montanhas naquele planeta, também não vi zonas desérticas. Tudo estava forrado de vegetação em vários tons, com diferentes matizes de verde, marrom e alaranjado em diferentes graus. Havia muitas colinas, lagos rios e lagos de águas de um azul-celeste muito luminoso. Aquela natureza tinha algo de paradisíaco.

Comecei a distinguir edificações que formavam círculos ao redor de uma construção principal. Haviam muitas pirâmides, algumas com escadas, outras lisas; com bases triangulares ou quadradas, mas o que mais havia era uma espécie de casas semicirculares de diversas cores claras, com predominância do branco.

Depois apareceram os habitantes daquele mundo. De cima eu os via transitar nos caminhos, nadar nos rios e lagoas, tinham aparência humana, pelo menos vistos a distância; todos vestiam túnicas brancas, somente certos detalhes eram de outras cores: as franjas das bainhas ou os cintos.

Não se via nenhuma cidade.

- Não existem cidades em Ofir nem em nenhum outro planeta civilizado. As cidades são formas pré-históricas de convivência -disse Ami.

- Por quê?

- Porque elas têm muitos defeitos; um deles é que muitas pessoas em um mesmo ponto produzem um desequilíbrio que afeta tanto a elas como ao planeta.

- Ao planeta?

- Os planetas são seres vivos, com maior ou menor evolução. Somente vida produz vida. Tudo é inter-dependente, e tudo está inter-relacionado. O que ocorre à Terra afeta as pessoas que a habitam, e vice-versa.

- Por que muitas pessoas em um mesmo ponto produzem um desiquilíbrio?

- Porque não são felizes, e isso a Terra percebe. As pessoas precisam de espaço, árvores, flores, ar livre...

- As pessoas mais evoluídas também? -perguntei confuso, porque Ami estava insinuando que as sociedades futuras viveriam em ambientes parecidos a "granjas", e eu pensava que ia ser exatamente o contrário: cidades artificiais em órbita, enormes edifícios-cidades, metrópoles subterrâneas, plástico por todos os lados; igual que nos filmes...

- Sobretudo pessoas mais evoluídas -respondeu.

- Pensava que era o contrário.

- Se na Terra não pensassem tudo ao contrário, não estariam a ponto de se destruir novamente...

- E estas pessoas de Ofir, não querem voltar à Terra?

- Não.

- E por quê?

- Ao deixar o ninho, os adultos não voltam ao berço, é pequeno para eles...

Quando nos aproximamos a umas construções de pouca altura e de estilo muito moderno, começamos a descer.

- Isto é o que mais se parece a uma cidade em um planeta civilizado. É um centro de organização, distribuição e apresentação de atos culturais. As pessos só vêm ocasionalmente em busca do que necessitam, ou também para presenciar alguma manifestação artística, espiritual ou científica, mas ninguém mora aqui.

Parou a nave a uns cinco metros de altura e disse com entusiasmo:

- Agora você vai conhecer os seus antepassados de milhões de anos atrás!

- Vamos sair da nave?

- Nem sonhando. Os seus vírus poderiam matar todas as pessoas deste mundo.

- E por que não o afetam?

- Porque estou "vacinado", mas antes de voltar ao meu planeta devo me submeter a um tratamento purificador.

Muitas pessoas transitavam por aí. Quando uma delas passou por perto das janelas de nossa nave, percebi algo terrível: eram gigantes!

- Ami, estes não são terrícolas; são monstros!

- Por quê? -brincou- Só porque medem uns três metros de altura?

- Três metros!

- Um pouco mais, um pouco menos, mas eles não se sentem especialmente altos...

- Mas você diz que eles vieram da Terra, e lá as pessoas medem um pouco mais da metade...

- Disse-lhe que os sobreviventes da Terra foram afetados pelas radiações e desequilíbrios do planeta e isto modificou seu crescimento, mas ao rítmo que vão, em algumas centenas de anos poderão atingir sua estatura natural...

Ninguém prestava muita atenção em nós. Eram pessoas de pele morena, magras, pélvis estreita e ombros levantados, retos. Alguns usavam um cinturão parecido ao de Ami.

Todos eram muito tranqüilos, relaxados e amáveis. Seus olhos, grandes e luminosos, denotavam profunda espiritualidade; eram puxados para os lados, amendoados; não como os dos asiáticos, mas como os das pessoas que aparecem nas pinturas egípcias.

São os antepassados dos egípcios, maias, incas, gregos e celtas, entre outros -explicou-me Ami-; essas culturas foram restos da civilização atlante, e estes são descendentes diretos deles...

- A Atlântida, o continente que afundou -exclamei- Pensei que isso fosse uma fábula...

- Quase todas as fábulas de seu mundo são mais reais do que essa sombra realidade na qual vocês vivem...

Em geral, as pessoas não andavam sozinhas, mas em grupos; tocavam-se muito uns aos outros ao conversar, andavam de braço dado ou apoiados no ombro do companheiro; alguns de mãos dadas. Quando se encontravam ou se despediam, faziam-no com grandes expressões de carinho; eram muito alegres e despreocupados...

- Eu lhe disse, são des-pre-ocupados, não se pré-ocupam, se ocupam; oxal você aprendesse a fazer a mesma coisa.

- Porque estão tão contentes?

Perguntei isso, porque na Terra as pessoas andam muito sérias pelas ruas; aqui, todos pareciam estar numa festa.

- Porque estão vivos... você acha pouco?

- E eles não têm problemas?

- Eles têm desafios, não problemas. Aqui está tudo bem.

- Meu tio diz que a vida só tem sentido quando existem problemas para solucionar, e que uma pessoa sem problemas se daria um tiro.

- Seu tio se refere a problemas para seu intelecto. O que acontece, é que ele tem atividade em só um dos dois cérebros que mencionei; seu tio é simplesmente “atividade intelectual caminhante”. O intelecto é um computador que não pode deixar de funcionar; a menos que a pessoa já tenha desenvolvido o outro cérebro, o emocional. Quando o intelecto não encontra nenhum problema para resolver, nenhum quebra-cabeças, pode chegar a enlouquecer e pensar em dar-se um tiro.

Senti que ele se refiria a mim, porque eu também estou sempre pensando sem parar.

- E existe alguma outra coisa, além de pensar?

- Perceber, desfrutar o que se vê, escutar os sons, tocar, respirar conscientemente, cheirar, saborear, sentir, aproveitar o momento presente... Você é feliz neste momento?

- Não sei...

- Se você deixasse de pensar por um momento, seria muito feliz. Imagine: Você satá numa nave espacial, em um mundo situado a anos luz de distância da Terra, está contemplando um planeta civilizado, habitado pelos antigos atlantes... Em lugar de perguntar bobagens, olhe ao deu redor, aproveite o momento...

Senti que Ami tinha razão, mas ainda tinha uma dúvida e a expressei:

- Então o pensamento não serve?

- Típica conclusão terrícola! – riu Ami- Se não é o melhor, então tem que ser o pior. Se não é branco, deve ser obrigatoriamente negro. Se não é perfeito, é demoníaco. Se não é Deus, é o diabo... Extremismo mental! – acomodou-se na poltrona-. Claro que o pensamento serve; sem ele você seria um vegetal, mas o pensamento não é a máxima possibilidade humana.

- Qual é então, desfrutar?

- Para desfrutar, você precisa perceber que está desfrutando.

- E perceber não é pensar?

- Não. A percepção é consciência, e consciência é mais que o pensamento.

- Então a consciência é o máximo – concluí-, um pouco cansado já dessa confusão na qual eu tinha me metido por causa das minhas perguntas.

- Também não – disse Ami, com um sorriso misterioso-. Vou lhe dar um exemplo. Você já percebeu que escutou uma música estranha há pouco tempo, a primeira que selecionei?

- Sim, mas eu não gostei.

- Você percebeu que escutava uma música, isso foi consciência, mas não a desfrutou.

- Realmente, não.

- Então, para desfrutar não é suficiente a consciência...

- Você tem razão!... O que falta então?

- O principal: a segunda música de fato a desfrutou, não foi?

- Sim, porque eu gostei.

- Gostar é uma forma de amar. Sem amor não existe o desfrutar; sem consciência, também não; o pensamento ficou em um discreto terceiro lugar como possibilidade humana. O amor ocupa o primeiro lugar... Nós procuramos amar tudo, viver em amor, assim desfrutamos mais. Você não gostou da lua, eu sim. Posso desfrutar mais e sou mais feliz do que você.

- Então o amor é a máxima possibilidade humana?

- Agora sim, Pedrinho, perfeito.

- E isso, sabe-se na Terra?

- Você sabia? Ensinaram no colégio?...

- Não.

- Lá estão apenas no terceiro degrau, no pensamento; por isso, os que pensam muito, são chamados sábios...

- E como é possivel que algo tão simples não seja percebido?

- Porque só utilizam um dos dois cérebros, mas o pensamento não pode experimentar amor. Os sentimentos não são pensamentos. Alguns chegam a pensar que os sentimentos são algo “primitivo” e que devem ser substituídos pelo pensamento, então, elaboram teorias que justificam a guerra, o terror, a desonestidade e a destruição da natureza. Agora sua humanidade está em perigo de extinção devido a esses pensamentos tão “inteligentes” e a essas teorias tão “brilhantes”...

- Você tinha razão quando dizia que na Terra pensamos as coisas ao contrário...

- Então observe um pouco o mundo de Ofir. Aqui as coisas não são ao contrário...

A falta de sono, todas as emoções do dia e os novos ensinamentos de Ami, deixaram-me esgotado. Detrás dos vidros podia ver pessoas gigantes, edifícios estilizados, crianças de dois metros de altura, veículos voadores e terrestres, mas meu interesse estava se derretendo devido ao cansaço.

- Você sabe quantos anos tem esse senhor? – Ami se referia a um homem que conversava perto da nave. Aparentava uns sessenta anos. Tinha os cabelos brancos, mas não parecia um ancião.

- Uns sessenta anos?

- Ele tem aproximadamente uns quinhentos anos de idade...

Senti um enjôo, um cansaço ... minha cabeça estava por explodir.

- Sabe, Ami? Estou cansado, quero descançar, dormir, voltar para casa, já não quero saber mais nada, estou com náuseas, não quero ver nenhuma outra coisa...

- “Indigestão informativa” – brincou Ami- Venha, Pedrinho, deite-se aqui.

Levou-me até uma das poltronas laterais, reclinou-a até transformá-la em um divã bem gostoso. Acomodei-me sobre ele, era confortável. Ami colocou alguma coisa na base de minha cabeça e o sono me venceu instantaneamente. Relaxei e dormi profundamente várias horas...

Capítulo 9 - A Lei Fundamental

Acordei animado e descansado, cheio de energias, como novo. Meu amigo estava revisando alguns controles e me piscou um olho.

- Está melhor, agora?

- Sim, fantástico... Nossa, minha vovó!... Quantas horas dormi?

- Quinze segundos – respondeu.

- O quê! – levantei para olhar atravéz das janelas. Estávamos no mesmo lugar, as mesmas pessoas andavam por ali, o homem de cabeça branca ainda conversava, não muito longe da nossa nave. Nada havia mudado.

- Como você fez isto?

- Você precisava dormir para “carregar baterias”. Temos “carregadores” que em quinze segundos o descansam como oito horas de sono.

- Extraordinário! Então vocês nunca se deitam para dormir?

- Nunca, não. De vez em quando precisamos. Através do sono recebemos algo mais que “carga”; mas nós; com muito pouco tempo temos o suficiente, não nos “descarregamos” tanto quanto vocês.

- Poxa, os “civilizados” sim que aproveitam bem a vida! Quinhentos anos... e quase não dormem!...

- É isso mesmo...

- Quer dizer que esse senhor tem quinhentos anos... Como você sabe?

- Por alguns detalhes das suas roupas. Quer falar com ele? Venha cá.

Sentamo-nos na frente de uma tela; meu amigo pegou um microfone e digitou uns sinais sobre o teclado dos controles.

Apareceu o rosto de um homem. Ami falou num idioma estranhíssimo, com sons que só pareciam variações de “shhh” quase inaudíveis; relacionei-os imediatamente com a música que parecia o assovio de um trem. O homem escutou-os e veio até a nave. Depois nos sorriu – pela tela, como se nos visse! E me disse claramente:

- Alô, Pedro!

Comprendi que se usava um “tradutor”, Pois os movimentos de seus lábios não correspondiam aos dos sons que eu ouvia.

- A-Alô – respondi nervoso.

- Sabe? Somos quase parentes, meus antepassados também vieram de uma civilização da Terra.

- Ah... – não consegui dizer nada mais interessante...

- Essa civilização se destruiu por falta de amor...

- Ah...

- Quantos anos você tem?

- De... digo, nove anos... e o senhor?

- Uns quinhentos anos terrestres.

- E... não sente tédio?

- Tédio... entediar-me... – tinha cara de não entender.

- Quando a mente busca atividade e não encontra – explicou-lhe Ami.

- Ah, sim; já tinha esquecido... Não; não sinto tédio; por que deveria?

- De viver tanto, por exemplo...

Nesse momento aproximou-se dele uma jovem e bela mulher. Cumprimentou-o com grande ternura. Ele também começou a acariciar e beijar a mulher. Conversaram e sorriram; depois ela foi embora. Parecia que se amavam muito.

- Quando o pensamento está a serviço do amor, não existe tédio – disse sorrindo.

Achei que ele estava apaixonado por essa bela mulher e perguntei:

- O senhor está apaixonado?

Ele suspirou profundamente e disse:

- Estou profundamente apaixonado.

- Pela jovem que estava com o senhor?

- Pela vida, pelas pessoas, pelo universo, por existir... pelo amor.

Outra mulher veio até ele, era ainda mais bela que a anterior; morena, magra, cabelos compridos, sedosos e bem negros, praticamente azul escuros; seus olhos eram de um verde transparente. Acariciaram-se e se beijaram no rosto, olharam-se profundamente um ao outro nos olhos, conversaram, riram e se despediram. Pensei que esse senhor era uma espécie de Casanova espacial...

- O senhor foi visitar a Terra alguma vez?

- Oh, sim. Fui algumas vezes, mas é muito triste...

- Por quê?

- A última vez que fui, as pessoas se matavam, havia fome, milhões de mortos, cidades destruídas, campos de prisioneiros... é triste.

Senti-me muito mal, como se fosse um homem das cavernas naquele mundo.

- Leve ao seu planeta uma mensagem minha – disse o homem com um sorriso carinhoso.

- Claro, qual?

- Amor, união e paz.

Despedimo-nos para visitar outros lugares do mundo de Ofir.

- Esse senhor tem duas esposas?

- Claro que não. Só tem uma – respondeu.

- Mas... ele beijou as duas...

- Onde está o problema? Eles se amam... Nenhuma delas era sua esposa.

- E se a verdadeira o surpreender?

Ami riu de mim.

- Nos mundos civilizados não existem ciúmes.

- Ah! – senti entusiasmo, pensei compreender...

- Então a gente pode ter muitas mulheres... – disse com malícia. Ami respondeu-me com um olhar transparente:

- Não, só uma.

Não compreendi, fiquei em silêncio e preferi contemplar a paisagem pela tela.

Apareciam campos de lavoura nos quais trabalhavam máquinas. De trecho em trecho havia um centro como o que nós tínhamos visitado antes. Não havia grandes extensões despovoadas, nem cidades. Vi caminhos bordeados de flores, árvores e enfeites de pedra; riachos, pontezinhas, cachoeiras... Todo aquele mundo parecia um jardim estilo japonês.

As pessoas andavam a pé, em pequenos grupos ou casais. Não vi estradas, apenas pequenos caminhos. Minúsculos veículos, parecidos aos que se utilizam nos campos de golfe, transportavam algumas pessoas.

- Não vejo automóveis, caminhões, trens...

- Não são necessários. Todo o transporte é feito pelo ar.

- Por isso vemos tantos “ovnis”... Como fazem para não se chocarem?

- Estamos conectados a um “Super-computador” que pode interceptar os comandos de cada nave – Ami acionou alguns controles-; vamos tentar bater naquelas pedras. Não se assuste...

A nave acelerou até atingir uma velocidade impressionamte e se atirou diretamente contra as pedras. Antes de bater nos desviamos e continuamos em sentido horizontal a alguns metros de altura. Ami não tinha mexido nos controles para evitar o desastre.

- É impossível bater, o “super-computador” não deixa.

- Que maravilha! – exclamei aliviado- Quantos países tem Ofir?

- Nenhum, Ofir é um mundo civilizado...

- Não tem países?

- Claro que não... ou talvez só um: Ofir.

- Quem é o Presidente?

- Não tem Presidente.

- Então quem manda?

- Mandar... mandar... ninguém manda.

- Mas quem organiza?

- Isso é outra coisa. Aqui já está tudo organizado, mas quando aparece algum imprevisto, os os mais sábios se reúnem com os especialistas no tema e tomam decisões ou programam o computador correspondente, mas têm muito pouco que fazer, já está tudo planificado e as máquinas fazem quase todo o trabalho.

- E então, o que fazem as pessoas?

- Viver, trabalhar, estudar, desfrutar, servir, ajudar a quem se possa, mas como nos nossos mundos não existem grandes problemas, ajudamos aos mundos menos civilizados. É uma pena que não possamos fazer muito, porque tudo deve ser feito dentro dos limites do “plano de ajuda”. Mandamos “mensagens”, fazemos “contatos”, como este, “damos uma ajuda” no nascimento de religiões que despertam para o amor... como você pensa que caía “maná” do céu no deserto?...

- Vocês?...

- Nós mesmos. Também colaboramos na salvação das melhores pessoas, quando os mundos se autodestroem... Foi terrível como afundou a Atlântida...

- Foi pelas bombas? – perguntei.

- E também pelo ódio, pelo sofrimento, pelo medo... A Terra não suportou essas radiações negativas dos seres humanos, e muito menos as explosões nucleares. O continente inteiro afundou, e se vocês agora não mudam, e continuam com as explosões atômicas e a infelicidade, a Terra pode não suportar novamente e é possivel que aconteça uma coisa semelhante...

- Nunca tinha pensado nisso!

- Tudo repercute em tudo – disse Ami.

- Que responsabilidade para todos nós!...

- Bem, para isso estamos trabalhando.

- Imagine que há pessoas que não aceitam que vocês existem...

- Essas pessoas são ingênuas; não somente existimos, como também os observamos cuidadosamente. O universo inteiro é uma unidade, um organismo vivo.

Não podemos descuidar das descobertas científicas que se produzem em qualquer mundo pouco civilizado. Já lhe disse que determinadas energias, quando utilizadas por mãos equivocadas, podem modificar o equilíbrio da galáxia inteira... e isso inclui nossos mundos, tudo repercute em tudo, por isso trabalhamos na sua evolução.

- Não vejo cercas em nenhum lugar. Como você sabe de quem é cada terreno?

- Aqui tudo pertence a todos...

Fiquei pensando por muito tempo.

- Então ninguém quer progredir?

- Acho que não o entendo bem, Pedrinho.

- Progredir, sair da massa, ser mais do que os demais.

- Você está se referindo a ter um maior nível evolutivo, mais medidas? Para isso existem exercícios espirituais.

- Não estou me referindo às medidas.

- A que então?

- A ter mais que os outros.

- A ter mais o que, Pedrinho?

- Mais dinheiro.

- Aqui não existe dinheiro...

- E como fazem compras, então?

- Ninguém compra. Se alguém precisa de alguma coisa, vai e pega...

- Seja o que for?

- O que precise – disse Ami.

- Qualquer coisa? – eu não podia acreditar no que estava escutando.

- Se alguém precisa de alguma coisa e isso existe, por que não?

- Um carrinho desses que andam por aí, também?

- Ou uma nave espacial – Ami falava como se o que ele me contava fosse a coisa mais natural do mundo.

- Todo mundo pode ter uma nave espacial?

- Todo mundo pode utilizar uma nave espacial – corrigiu Ami.

- Esta nave é sua?

- Eu a estou utilizando, você também.

- Perguntei se é sua.

- Vamos ver... “sua” indica posse, domínio... já lhe disse que tudo pertence a todos, a quem necessite e enquanto o ocupa.

- E quando já não se necessita?

- Então já não se utiliza mais.

- E se, por exemplo, eu pego uma dessas naves e quero deixar no pátio quando não a ocupo... posso?

- Por quanto tempo você não vai ocupá-la?

- Vamos dizer... uns três dias – respondi.

- Então é melhor que você a deixe no lugar que está destinado para estacionar naves, o “aeroporto”, assim ela serve a outra pessoa enquanto você não a ocupa. Depois, quando você chega, pode pegar essa ou qualquer outra que esteja livre.

- Mas se eu quero essa?

- Mas por que essa? Aqui tem nave de sobra, além de que todas são mais ou menos parecidas.

- Imagine que eu sinto carinho por ela, assim como você pela sua “antiga” televisão...

- Esta televisão, como você a chama, é uma pequena lembrança, ninguém precisa dela porque é antiga; quando já não desejar conservá-la, entregarei para que as pessoas que trabalham com este tipo de instrumentos decidam se vão desarmá-la ou modificá-la; também posso ficar com ela a minha vida toda, não é uma coisa pública. Mas se você quer conservar sempre essa mesma nave (capricho esquisito, porque não foi você quem construiu essa nave, além de que tem de sobra) vai ter que esperar que chegue, que esteja livre.

- Mas se eu quero utilizar essa mesma nave, só para mim e mais ninguém?

- Por que mais ninguém? – perguntou Ami.

- Vamos supor que eu não gosto que usem as minhas coisas...

- Mas, por quê? Aqui ninguém tem doenças contagiosas...

- Não sei, mas imagine que eu goste que minhas coisas sejam minhas e de mais ninguém.

- Isso seria um sentido de posse doentio, egoísmo.

- Não é egoísmo.

- O que é então... generosidade? – Ami ria.

- Quer dizer que eu tenho que partilhar minha escova de dentes com todo mundo?

- Extremismo mental de novo... Você não tem que compartilhar sua escova de dentes nem seus objetos pessoais; aqui tem aos montes, sobram, ninguém se escraviza a eles... agora, não querer compartilhar uma nave espacial!... Além disso, no “aeroporto” ela é verificada pelas máquinas encarregadas da tarefa, é consertada quando for preciso, você não tem que fazer isso por conta própria.

- Parece interessante, mas sinto tudo isso um pouco como se fosse “colégio interno”, tudo obrigatório, vigiado...

- Você se engana. Aqui as pessoas gozam da maior liberdade.

- E não existem leis?

- Sim, existem, mas todas elas são baseadas na Lei fundamental do universo, beneficiando a todas as pessoas.

- Quer me contar agora essa bendita lei?

- Mais adiante, calma – sorria ele.

- E se eu violar alguma lei?

- Vai sofrer.

- Vão me castigar, prender-me?

- Não. Aqui não existe castigo nem prisões, mas se você cometer alguma falta, sofre; você mesmo se castiga.

- Eu mesmo? Não entendo, Ami.

- Você daria uma bofetada na sua vovó?

- Não, claro que não!... imagine...

- Imagine que sim, que lhe dá uma bofetada... que lhe aconteceria?

- Sentiria dor, arrependimento, seria insuportável!...

- Isso é castigar-se a si mesmo... não precisa que o castiguem ou que o prendam. Tem coisas que ninguém faz, e não é porque as leis proíbam. Você não machucaria a sua avó, não lhe provocaria uma ferida, não roubaria seus objetos pessoais; ao contrário, você tenta ajudá-la e protegê-la.

- Sim, porque eu a amo.

- Aqui todos nos amamos, somos todos irmãos.

Existem momentos nos quais compreender alguma coisa produz interiormente o efeito de uma explosão de luz. Atravéz das explicações de Ami, eu consegui compreender de repente tudo o que ele estava querendo me dizer. Aquele mundo era uma grande família na qual todos se amavam entre si, e por isso, compartilhavam tudo. Achei isso muito simples agora.

- Exatamente assim estão organizados todos os mundos evoluídos do universo – explicou-me Ami, feliz de que eu tivesse assimilado.

- Então, a base da organização é o amor...

- Sim, Pedrinho; essa é a Lei fundamental do universo...

- Quê!? Qual!?

- O amor – disse Ami.

- O amor?

- O amor. Essa é a Lei.

- Eu pensava que seria algo mais complicado...

- É simples, singelo e natural, e apesar disso não é fácil de vivenciar, para isso existe a evolução. Evolução significa aproximar-se ao amor. Os seres mais evoluídos experimentam e expressam mais amor. A verdadeira grandeza ou mesquinhez dos seres está determinada unicamente pela medida do seu amor...

- E por que dá tanto trabalho?

- Por que temos dentro de nós uma barreira que impede ou freia nossos melhores sentimentos.

- Qual é essa barreira?

- O ego. Uma idéia falsa a respeito de nós mesmos, um falso eu. Quanto maior é o ego, mais a gente pensa que é melhor do que os demais. O ego faz a gente se sentir com autorização para desprezar, fazer mal, dominar e utilizar os demais; inclusive dispor de suas vidas. Como o ego é uma barreira ao amor, impede-nos sentir compaixão, ternura, carinho, afeto... amor. O ego nos insensibiliza frente à vida, é alimentado por falsas idéias, por conceitos errados a respeito de nós mesmos, dos demais e da própria vida. Veja: ego-ísta, interessa-se por si mesmo e não pelos outros. Egó-latra, que se adora a si mesmo e a mais ninguém. Ego-tista, só fala de si. Ego-cêntrico, pensa que o universo gira ao seu redor. A evolução humana consiste em diminuir o ego para que o amor possa crescer.

- Então quer dizer que nós, os terrestres, temos muito ego.

- Depende do nível de evolução de cada um. Continuemos o passeio, Pedrinho.

Capítulo 10 - A fraternidade interplanetária

Em uma concavidade dos prados havia um bonito e pequeno anfiteatro, no qual vários seres muito estranhos representavam um espetáculo para o público.

No começo pensei que estavam fantasiados, mas logo compreendi que não. Havia seres gigantescos, ainda maiores do que os de Ofir, outros mais baixos, quase anões; alguns eram mais magros do que os terrícolas, outros muito parecidos a nós... Olhares lindos e estranhos, grandes olhos, bocas pequenas; rostos da cor de azeitona quase sem nariz e lábios... Chamou a minha atenção um grupo de crianças muito parecidas a Ami, apesar de que não se vestiam como ele.

- São originários do meu planeta -explicou-me.

Tinha cinco de cada mundo, dançavam de mãos dadas ao som de uma bela melodia, formando uma alegre roda. Um globo dourado ia caindo suavemente; quando se aproximava de algum ser, este o remetia para cima. Enquanto caía, aquele que o tinha impulsionado e os quatro restantes de seu grupo passavam dançando de uma maneira harmoniosa no centro da roda e realizavam outra dança, ao compasso de uma nova música, que se somava à anterior, sem destoar. Enquanto isto acontecia, o resto da roda continuava com a dança geral, ao compasso da primeira melodia. Quando o globo alcançava outro grupo de seres, estes ocupavam o centro, ao compasso de outra música, e os anteriores voltavam a seu lugar. A roda geral ia girando lentamente. Cada vez que um grupo terminava seu ato, o público aplaudia com grande entusiasmo.

- Imagino que todos estes seres são originários de diferentes mundos.

- É isso mesmo. Cada grupo mostra as danças do seu planeta.

Entre o público havia seres de outros mundos, não somente ofirianos. O anfiteatro estava todo decorado com bandeiras ao redor. Naves muito diferentes estavam estacionadas fora do lugar, num estacionamento. Outras, como a nossa, permanecia no ar.

- Quem está ganhando? -perguntei.

- Ganhando o quê?

- Isso me parece que é uma competição, não?

- Competição?

- Não estão escolhendo o grupo que dança melhor?

- Não.

- E qual é o objetivo, então?

- Mostrar o que sentem, agradar dando um bonito espetáculo, estreitar laços de amizade, ensinar, desfrutar.

- E o grupo que dança melhor que os demais, não ganha nenhum prêmio?

- Ninguém está comparando nada. Aprendem e se divertem.

- Na Terra os melhores são premiados...

- E com isso, os últimos se sentem humilhados e aos ganhadores lhes cresce o ego... -disse Ami, sorrindo.

- É duro, mas quem quer ganhar tem que se esforçar.

- "Ganhar", ser mais do que os demais, outra vez, competição, egoísmo, separatismo. Devemos competir contra nós mesmos, superar-nos, e não contra os demais irmãos. Essas coisas não existem nos mundos fraternais, evoluídos, porque aí está a semente da guerra e da destruição.

- Acho que você está exagerando... são competições sãs, esportivas...

- Mas encaradas com critérios cavernícolas... já existiram guerras que começaram por causa de uma partida de futebol; até se matam nos estádios da Terra... Isto que você está vendo é são, esportivo e artístico.

- Parece uma brincadeira de crianças que existe no meu planeta.

- A roda, o círculo, são símbolos universais; representam a fraternidade; também outras coisas, entre elas, um mundo.

- Que significa o círculo do seu peito?

- Significa a humanidade.

- E o coração alado?

- É o amor elevado e livre, desapegado.

- A humanidade unida em amor! -exclamei.

- Você é um gênio! -disse ele, muito contente.

Continuamos observando o espetáculo enquanto Ami explicava:

- Cada um dos movimentos que realizam tem um significado, faz parte de uma linguagem.

- Que bonito!.. gostaria de que a minha avó visse isto... agora que penso, que horas que são na Terra?

- Sua vovó ainda vai dormir quatro horas.

- Podemos vê-la daqui?

- Sim, através da conexão com os satélites que temos em órbita na Terra. Espere.

Acionou os controles de uma tela e apareceu meu planeta visto de longe; depois vimos minha vovó dormindo.

- É maravilhoso!... Você pode ver o universo todo?

- Não voe tão alto!... acho que você desconhece o tamanho do universo.

- Você tem razão, desconheço, sim -confessei.

- Nós sabemos de alguns milhões de galáxias, as mais próximas. As outras as vemos de longe, e mais para lá... ignoramos o que existe... Mas esta tela é muito interessante, com alguns milhões de galáxias é suficiente, não é? -rimos- sem contar que podemos sintonizar o passado de qualquer mundo...

- O passado?... como é possível?

- É fácil; está tudo arquivado, e de muitas maneiras... "Nada existe oculto que não se chegue a conhecer"... Vou lhe mostrar uma dessas maneiras. Esse balão dourado que flutua ali, recebe sua luz do sol, esta rebate no globo, e chega aos seus olhos; outros raios saem disparados para cima, para o espaço, viajam por ele eternamente. Se captamos essa luz em qualquer ponto da sua rota e a ampliamos, estaremos vendo o globo exatamente como foi no passado.

- Incrível!

- Mais adiante posso lhe mostrar Napoleão, César, Jesus... em ação!

- De verdade?

- E a você mesmo há alguns anos... Mas, por enquanto, quero que você conheça um pouco mais de Ofir.

Começamos a nos elevar deixando atrás aquele anfiteatro.

Uma nave luminosa passou bem perto de nós fazendo um jogo de luzes; a nossa também fez, enquanto Ami sorria com brejeirice.

- Quem era, algum amigo seu?

- Eram pessoas alegres e divertidas, oriundas de um mundo que visitei faz muito tempo.

- Qual foi o significado desse jogo de luzes?

- Uma saudação, amizade, foram simpáticos comigo e nós com eles...

- Como você sabe?

- Você não sentiu?

- Acho que não...

- Isso é porque você não se observa. Se estivesse atento a você mesmo, assim como ao exterior, você poderia descobrir muitas coisas... Não sentiu uma certa alegria quando essa nave se aproximava?

- Não sei... acho que não... estava pensando que podíamos bater...

- Estava pre-ocupado –Ami ria- Veja essa nave que vai por lá, é de meu mundo, observe que é idêntica a esta.

- Gostaria de conhecer seu planeta.

- Em outra viagem vou levá-lo; hoje não temos tempo.

- Você promete?

- Se você escrever o livro, prometo.

- E ao passado também?

- Ao passado também.

- E às praias de Sírio também?

- Também -o menino espacial ria-, você tem uma boa memória. E também ao planeta que estamos preparando para abrigar os que resgatarmos no caso de produzir-se uma destruição da Terra.

- Isso quer dizer que a destruição é inevitável?

- Depende do que vocês fizerem para viver unidos, sem fronteiras, sem injustiças, sem armas.

- E formar um só país: a Terra, não é?

- É. Os regionalismos exagerados revelam pontos de vista pouco elevados, egoísmo. Um apego excessivo a um lugar não deixa espaço para amar o resto dos lugares. O universo é muito grande. Devemos pensar e amar “em tamanho grande”. Alguns pensam que os que são de sua rua são melhores do que os outros das outras ruas do mundo...

- Você tem razão, deveríamos viver sem fronteiras. Que somente a atmosfera seja a nossa fronteira! – exclamei entusiasmado.

- E nem mesmo isso. O Universo é livre, amor é liberdade. Nós não precisamos pedir permissão a ninguém para vir para este mundo ou qualquer outro que desejemos visitar.

- Qualquer um pode vir a este mundo sem pedir autorização...

- E a qualquer outro mundo do universo...

- E as pessoas daqui não se zangam?

- Por que deveriam se incomodar? – Ami regozijava-se com nosso diálogo.

- Não sei; é difícil para mim aceitar tanta maravilha...

- Vou tentar explicar-lhe, Pedrinho. Os mundos evoluídos formam uma fraternidade universal; todos somos irmãos, amigos, todos somos livres de ir e vir, sempre que não prejudiquemos ninguém. Não existem segredos, nem nada é proibido. Não existe guerra das galáxias, entre nós não existe violência. A violência é uma característica dos mundos primitivos e das sociedades que estes constroem. Não existe competição entre nós, ninguém quer ser mais do que o seu irmão. A única coisa que todos nós queremos é desfrutar de forma sã, a vida; mas, como amamos, nossa maior alegria a obtemos servindo, ajudando aos demais, e sendo úteis somos felizes. Todos temos a consciência em paz, amamos ao nosso Criador e lhe agradecemos por dar-nos a existência e permitir-nos desfrutá-la. A vida é muito simples para nós, apesar de termos muitos avanços científicos, e se a humanidade da Terra conseguir sobreviver, e se conseguir superar seu egoísmo e sua desconfiança, nós nos faremos presentes para ajudá-los, para que se integrem à fraternidade cósmica. Se conseguirem isso, a vida já não vai ser uma dura competição pela sobrevivência e vai começar a felicidade para todos; vamos lhes dar as ferramentas para que possam fazer da Terra um mundo feliz, pacífico, justo e unido.

- É maravilhoso o que você diz, Ami.

- Porque é verdade. Somente a verdade é maravilhosa. Quando você chegar ao seu mundo escreva esse livro, para que seja uma voz a mais, outro grão de areia.

- Quando eu lhes contar, todos vão acreditar e vão deixar suas armas para viver em paz... – eu disse, muito convencido.

Ami riu novamente de mim, enquanto me acariciava a cabeça, mas desta vez não me incomodei, porque já não o considerava um menino como eu, senão melhor.

- Que inocente! Você não percebe que estão em guerra, competindo de forma feroz, terrivelmente adormecidos, tão sérios e com as caras fechadas... mas as verdades do universo não são sérias, são maravilhosas. Você acha que um campo de flores é sério?

- Não. É bonito – respondi.

- Se as pessoas que governam os países e os exércitos fossem as que criam as flores, elas lhes colocariam balas no lugar das pétalas, e leis desumanas e rígidas no lugar dos talos...

- Então... não vão acreditar em mim?

- As crianças e os que são como crianças acreditarão; os adultos pensam que somente as coisas horríveis são verdadeiras. Colecionam objetos materiais, adoram as armas e não se interessam por nada que seja maravilhoso e verdadeiro; pensam que a escuridão é luz e que a luz é escuridão. Esses não vão se interessar pelo seu livro; mas as crianças sabem que a verdade é maravilhosa e pacífica. Elas vão contribuir para difundir a nossa mensagem, que vai chegar através de você. É um processo. Nós realizamos nossa tarefa, brindando nossa ajuda e servindo. A humanidade deve agora fazer um esforço por si mesma.

- E se não prestam atenção a isso e destroem o mundo?

- Vamos ter que fazer a mesma coisa que fizemos há milhões de anos.

- Resgatar todos aqueles que têm um bom nível – disse.

- Isso mesmo, Pedrinho.

- E eu tenho setecentas medidas? – Novamente tentei saber isso.

- Todos aquele que faz algo pela paz, tem um bom nível. E todo aquele que não faz nada, podendo fazer algo, é indiferente ou cúmplice, não tem amor, não tem um bom nível.

- Então, assim que eu chegar em casa, começo a escrever – disse, um pouco assustado.

Ami riu de mim.


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