quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Ami - O menino das estrelas - 1ª parte, cap 5, 6 e 7



Capítulo 5 - Raptado pelos extraterrestres!

- Já chegamos na sua casa. Já vai dormir?

- Sim. Estou realmente cansado, não aguento mais. E você, que vai fazer?

- Voltar para a nave. Vou dar uma volta pelas estrelas... Queria convidá-lo, mas se você está tão cansado...

- Agora já não!... de verdade?... Você me levaria a dar uma volta no seu "ovni"?

- Claro, mas e sua vovó?...

Diante de uma possibilidade tão extraordinária como a de passear num "disco voador" foi embora todo o meu cansaço, estava como novo e cheio de vitalidade; pensei imediatamente na forma de sair sem que sentissem a minha ausência.

- Vou jantar, deixo o prato vazio em cima da mesa, depois coloco o meu travesseiro debaixo da roupa de cama, porque se minha avó se levantar vai pensar que eu estou dormindo em casa, deixo esta roupa por aí e visto outra. Farei isso com muito cuidado e em silêncio.

- Perfeito, vamos estar de volta antes que ela se acorde. Não se preocupe com nada.

Fiz tudo de acordo ao calculado, mas quando quis comer a carne tive nojo e não pude comer. Alguns minutos mais tarde caminhávamos para a praia.

- Como vou subir na nave?

- Vou entrar nadando, pela água, depois levo o veículo até a praia.

- Não vai lhe dar frio entrar no mar?

- Não. Esta roupa resiste muito mais ao frio e calor do que você imagina... Bem, vou pegar a nave. Espere-me aqui e quando eu aparecer não se assuste.

- Oh, não; já não tenho mais medo dos extraterrestres -achei graça de sua recomendação desnecessária...

Ami se dirigiu até as suaves ondas, entrou no mar e começou a nadar. Logo se perdeu de vista, na escuridão, pois a lua tinha desaparecido detrás de umas nuvens bem tenebrosas...

Pela primeira vez, desde que Ami apareceu, tive tempo de pensar a sós... Ami?... um extraterrestre!... Era verdade ou tinha sido um sonho?

Esperei um bom tempo e comecei a me sentir nervoso. Não me senti muito seguro... estava sozinho, numa praia escura e terrivelmente solitária...

Ia enfrentar-me com uma nave extraterrestre... minha imaginação me fazia ver estranhas sombras se mexendo entre as pedras, na areia, surgindo das águas. E se Ami fosse malvado disfarçado de menino, falando de bondade para conseguir minha confiança... ... ... Não, não pode ser!... ... ... Raptado por uma nave extraterrestre?...

Neste momento apareceu diante dos meus olhos um espetáculo apavorante: debaixo da água um resplendor amarelo esverdeado começava a subir lentamente, depois apareceu uma cúpula que girava, com muitas luzes coloridas... Era verdade! Eu estava contemplando uma nave de outro mundo! Depois apareceu o corpo do veículo espacial, ovalado, com janelas iluminadas. Emitia uma luz entre prateada e verde. Foi uma visão que eu não esperava, senti verdadeiro terror. Uma coisa era falar com um menino... menino?... com cara de bonzinho... máscara?... e outra coisa era estar aí, quieto, sozinho, numa praia, na escuridão da noite e ver aparecer uma nave de outro mundo... um "ovni" que vem nos pegar para nos levar para longe... Esqueci do "menino" e de tudo o que ele me tinha dito. Para mim aquilo se transformou numa máquina infernal, vinda de quem sabe de que sombrio mundo do espaço, cheia de seres monstruosos e cruéis que vinham me raptar. Pareceu-me que era de um tamanho muito maior do que o objeto que eu tinha visto cair no mar umas horas antes.

Começou a aproximar-se de mim, flutuando a uns três metros por cima das águas. Não emitia nenhum som, o silêncio era horrível e se aproximava, se aproximava irremediavelmente. Quis fugir. Desejei não ter conhecido nunca nenhum extraterrestre, queria fazer o tempo voltar para trás, estar dormindo tranquilamente perto de minha avó, a salvo, na minha caminha, ser um menino normal e com uma vida normal. Isso era um pesadelo; não conseguia sair correndo, não podia deixar de olhar para esse monstro luminoso que vinha me levar... quem sabe a um zoológico espacial...

Quando chegou em cima da minha cabeça, eu me senti perdido. Apareceu uma luz amarela no ventre da nave, depois um reflexo me ofuscou e aí eu soube que já estava morto. Encomendei minha alma a Deus e decidi abandonar-me a sua Suprema Vontade...

Senti que me elevavam, que eu ia numa espécie de elevador, mas meus pés não estavam apoiados em nada. Esperei ver aparecer aqueles seres com cabeça de polvo e olhos sanguinários e sangrentos...

De repente, meus pés pousaram sobre uma superfície acolchoada e me vi de pé num recinto luminoso e agradável, carpetado e com paredes atapetadas. Ami estava na minha frente, sorrindo com seus grandes olhos de menino bom. Seu olhar conseguiu me acalmar, fazendo-me voltar à realidade, essa maravilhosa realidade que ele tinha me ensinado a conhacer. Colocou a mão no meu ombro.

- Calma, calma; não tem nada de mal.

Quando consegui falar, sorri e lhe disse:

- Deu-me muito medo.

- É sua imaginação desenfreada. A imaginação sem controle pode matar de terror, é capaz de inventar um demônio onde só existe um bom amigo, mas são somente nossos monstros internos, porque a realidade é simples e maravilhosa, é fácil...

- Então... estou num "ovni"?

- Bem, "ovni" é um objeto voador não identificado. Isto está plenamente identificado: é uma nave espacial; mas podemos lhe chamar "ovni" se você quiser, e também pode me chamar "marciano". -Relaxei completamente a tensão quando rimos.- Venha, vamos para a sala de comandos. – convidou-me.

Por uma porta muito pequena e em forma de arco passamos a outro recinto, de teto tão baixo como o do que acab vamos de abandonar. Diante de mim apareceu uma sala semicircular rodeada de janelas ovais. No centro havia três poltronas reclináveis na frente dos controles, e várias telas quase apoiadas do chão. Aquilo era como se fosse para crianças! Tanto as poltronas como a altura da sala. Ali não caberia um adulto de nenhuma maneira... Eu podia tocar o teto levantando o braço.

- Isto é fabuloso! -exclamei entusiasmado. Aproximei-me das janelas enquanto Ami se acomodava na poltrona central, na frente dos controles. Detrás dos vidros pude ver a distância o reflexo das luzes do balneário. Senti uma suave vibração no chão e o povoado desapareceu. Agora só via estrelas...

- Ei, o que você fez com o balneário?

- Olhe para baixo -respondeu Ami. Quase desmaiei: estávamos a milhares de metros de altitude sobre a baía. Podíamos ver todos os povoados da costa que havia nessa região; o meu estava lá embaixo, bem embaixo. Tínhamos nos elevado quilômetros num instante e eu não tive nenhuma sensação de movimento!

- Super, super, ótimo! -meu entusiasmo crecia, mas logo a altura me deu vertigem.

- Ami...

- Diga.

- ... Isso não cai?

- Bem, se a bordo houvesse uma pessoa que tivesse dito mentiras, então os mecanismos poderiam falhar...

- Desça, então, desça!

Por suas gargalhadas soube que ele estava brincando.

- Podem nos ver lá de baixo?

- Quando esta luz se acende -disse apontando um sinal ovalado nos comandos- quer dizer que somos visíveis. Quando está apagada, como agora, somos invisíveis.

- Invisíveis?

- Do mesmo jeito que este senhor que está sentado do meu lado -mostrou a poltrona vazia a seu lado. Alarmei-me, mas suas risadas me fizeram compreender que era outra de suas brincadeiras.

- Como você faz para que não sermos vistos?

- Se uma roda de bicicleta está girando rápido, seus raios não são vistos. Nós fazemos que as moléculas desta nave se movimentem rápido...

- Engenhoso, mas eu gostaria que nos vissem lá de baixo.

- Não posso fazer isso. A visibilidade ou invisibilidade de nossas naves, quando estão em mundos incivilizados, efetua-se de acordo ao "plano de ajuda". Isso é decidido por um "computador" gigante situado no centro desta galáxia...

- Não entendo direito.

- Esta nave esta conectada a este "super-computador" que decide quando podemos ou quando não podemos ser vistos.

- E como é que esse "computador" sabe quando...?

- Esse "computador" sabe tudo... Você quer que a gente vá até algum lugar em especial?

- Até a capital! Gostaria de ver a minha casa daqui do ar...

- Vamos! -Ami mexeu uns controles e disse, "já". Preparei-me para desfrutar a viajem olhando pela janela... mas já tínhamos chegado!... Cem quilômetros em uma fração de segundo!

Eu estava maravilhado.

- Isto sim que é viajar rápido!

- Já lhe expliquei que em geral não "viajamos", senão que nos "situamos"... É uma questão de coordenadas, mas também podemos "viajar".

Olhei as grandes avenidas iluminadas. Era impressionante ver a cidade, de noite, de cima. Localizei meu bairro e pedi a Ami que nos dirigíssemos para lá.

- Mas "viajando" devagar, por favor. Quero desfrutar o passeio.

A luz dos comandos estava apagada. Ninguém nos via.

Fomos avançando suave e silenciosamente entre as estrelas e as luzes da cidade.

Apareceu a minha casa. Foi extraordinário vê-la das alturas.

- Quer comprovar se está tudo bem lá dentro?

- Como?

- Vamos ver por esta tela.

Na frente dele, numa espécie de televisão grande, apareceu a rua focalizada de cima; era o mesmo sistema pelo qual vimos minha avó dormir, mas com uma grande diferença: aqui a imagem aparecia em alto-relevo, com profundidade. Parecia que se podia meter a mão pela tela e tocar as coisas. Tentei fazer isso, mas o vidro invisível me impediu. Ami se divertia comigo.

- Todos fazem a mesma coisa...

- Todos, quem são todos?

- Você não vai pensar que é o primeiro incivilizado que sai a passeio numa nave extraterrestre?

- Tinha pensado que era. -disse, um pouco decepcionado.

- Pois se enganou.

A lente da câmara, ou o que quer que fosse, pareceu atravessar o teto da minha casa, percorrendo cada cantinho. Estava tudo em ordem.

- Por que na sua televisão portátil não se pode ver em alto-relevo, como nessa tela?

- Já lhe disse, é um sistema antigo...

Pedi que fôssemos dar uma volta pela cidade. Passamos pelo meu colégio. Vi o pátio, o campo de futebol, os arcos, minha classe. Pensei em mim mesmo contando mais tarde a aventura aos meus colegas: "Vi o colégio de uma nave espacial"... Estaria orgulhoso.

Fomos passando pela cidade toda.

- É uma pena que não seja de dia -disse.

- Por quê?

- Teria gostado de passear na sua nave também de dia... ver cidades, paisagens com a luz do sol...-como de costume, Ami estava rindo de mim.

- Você quer que seja dia? -perguntou.

- Não acredito que os seus poderes sejam suficientes para mover o sol... ou são?

- O sol não, mas nós sim...

Conectou os controles e começamos a nos mover tremendamente rápido; subimos a cordilheira dos Andes e a atravessamos em uns três segundos, depois apareceram várias cidades que se viam como umas manchinhas luminosas, devido à grande altitude que tinhamos atingido; imediatamente depois apareceu o enorme oceano Atlântico, banhado pela lua. Também havia muitas nuvens enormes que limitavam minha visibilidade. O céu foi se aclarando no horizonte, viajávamos em direção ao leste. Chegamos à terra e aconteceu algo extraordinário: o sol começou a subir rapidamente! Para mim aquilo foi algo incrível. Ami tinha movido o sol! Em apenas uns momentos se fez dia.

- Por que você disse que não podia mover o sol?

Ami se deleitava observando minha ignorância.

- O sol não se moveu; fomos nós que nos movemos rapidamente.

Compreendi meu erro imediatamente, mas tinha sua justificação: é preciso ver o que é comtemplar o sol se elevar pelo horozonte a uma velocidade imprecionante...

- Em que lugar estamos?

- África.

- África? Mas se faz só um minuto nós estávamos na América do Sul!

- Como você queria viajar de dia nessa nave, viemos para um lugar que fosse de dia: "se a montanha não vem a Mahomé, Mahomé vai à montanha"...

- Que país da África você gostaria de visitar?

- Deixa eu ver... a Índia.

Sua risada me mostrou que meus conhecimentos de geografia não eram muito exatos...

- Então vamos à Asia, para a Índia... A qual cidade da Índia você quer ir?

- ... Dá no mesmo... escolhe você...

- Bombaim está bem?

- Sim, ótimo Ami...

Passamos em grande velocidade e altitude por cima do continente africano. Mais tarde, na minha casa, com um mapa-mundi pude reconstruir minha viagem. Chegamos ao oceano Índico, e o atravessamos enquanto o sol subia e subia vertiginosamente. De repente estávamos na Índia. A nave freou bruscamente e ficou imóvel...

- Como foi que nós não nos batemos contra as janelas com essa freada? -perguntei muito surpreendido.

- É uma questão de anular a inécia...

Ah, que fácil...


Capítulo 6 - Uma questão de medidas

Descemos sobre a cidade, até chegar a uns cem metros de altura e começamos nosso passeio pelos céus de Bombaim.

Parecia-me estar sonhando ou vendo um filme. Homens com turbantes brancos, casas muito diferentes das do meu país. Chamou minha atenção a enorme quantidade de pessoas nas ruas. Não era como na minha cidade. Lá, nem mesmo no centro, na hora de saída dos escritórios vê-se essa multidão. Aqui estavam em todos os lugares. Para mim, aquilo era outro mundo.

Ninguém nos via; a luz indicativa estava apagada.

De repente, voltei à "realidade".

- Nossa, minha vovó.

- O que é que há com a sua avó?

- Já é dia, ela já deve ter se levantado, e vai se preocupar com a minha ausência... vamos voltar!

Para Ami, eu era um permanente motivo de riso.

- Pedrinho, sua avó dorme profundamente. Lá é meia noite neste momento, do outro lado do mundo; aqui são dez da manhã.

- De ontem ou de hoje? -perguntei, confundido com o tempo.

- De amanhã -respondeu, morto de rir-. Não se preocupe. A que horas ela se levanta?

- Mais ou menos às oito e meia.

- Então ainda temos oito horas e meia pela frente... sem contar que podemos esticaaaar o tempo...

- Estou preocupado... Por que não vamos ver?

- O que você quer ver?

- Ela pode ter acordado...

- Melhor vermos daqui mesmo.

Pegou os controles de uma tela e apareceu a costa da América do Sul vista de muita altura, depois a imagem mostrou uma queda em direção à terra a uma velocidade fantástica. Logo pude distinguir a baía, o balneário, a casa da praia, o teto e a minha avó. Era incrível, parecia que estava ali; dormindo, com a boca entreaberta, na mesma posição anterior.

- Não se pode dizer que ela dorme mal, ein? -observou Ami com malícia, depois acrecentou- Vamos fazer algo para que você fique tranquilo.

Pegou uma espécie de microfone e me indicou que ficasse em silêncio. Apertou um botão e disse "psiu". Minha vovó escutou aquilo; acordou, levantou-se e foi até a copa. Nós podíamos escutar os seus passos e sua respiração. Viu meu prato meio vazio sobre a mesa, pegou-o e deixou-o na cozinha, depois foi até o meu dormitório, abriu a porta, acendeu a luz e olhou para minha cama. Estava perfeita, parecia que eu dormia lá, contudo, alguma coisa lhe chamou a atenção, não soube o que era, mas Ami sim.

Pegou o microfone e respirou perto dele. Minha avó escutou essa respiração e pensou que era a minha, apagou a luz, fechou a porta e foi para o seu dormitório.

- Está tranquilo agora?

- Sim, agora sim... mas não dá para acreditar; ela dormindo lá e nós aqui de dia...

- Vocês vivem condicionados demais pelas distâncias e pelo tempo...

- Não compreendo.

- O que você pensaria de sair de viagem hoje e voltar ontem?

- Você quer me deixar maluco. Não poderíamos visitar a China?

- Claro, que cidade você gostaria conhecer?

Desta vez não ia passar vergonha. Respondi com segurança e orgulho:

- Tóquio.

- Então vamos conhecer Tóquio... a capital do Japão -disse tentando dissimular a vontade de rir.

Passamos por todo o território da Índia, de Oeste a Leste. Chegamos aos Himalaias, ali a nave parou.

- Temos ordens -disse Ami. Numa tela apareceram estranhos sinais- Vamos deixar um testemunho. O "computador" gigante indica que devemos ser vistos por alguém em algum lugar.

- Que divertido! Onde e por quem?

- Não sei. Vamos ser guiados pelo "computador". Já chegamos...

Havíamos utilizado o sistema de translado instantâneo. Estávamos sobre um bosque, suspensos no ar a uns cinqüenta metros de altura. A luz dos controles mostrava que éramos visíveis. Havia muita neve por ali.

- Isto é o Alaska -disse Ami reconhecendo o lugar. O sol começava a se ocultar no mar próximo dali.

A nave começou a se mover no céu, desenhando um enorme triângulo com sua trajetória, enquanto mudava suas cores.

- Para que fazemos isso?

- Para impressionar. Devemos chamar a atenção desse amigo que vem ali.

Ami observava pela tela, e eu o procurei através dos vidros das janelas e o encontrei. Ao longe, entre as árvores, havia um homem com um casaco de pele de cor marrom; tinha uma espingarda, parecia muito assustado. Apontou-nos sua arma. Agachei-me, com medo, para evitar ser atingido pelo possível disparo. Ami se divertia com minhas inquietudes.

- Não tenha medo, este "ovni" é à prova de balas... e de muito mais...

Elevamo-nos até ficarmos bem alto, sempre emitindo uma cintilação colorida.

- É preciso que este homem não esqueça jamais esta visão.

Eu pensei que, para que ele nunca mais esquecesse o espetáculo, era suficiente ter passado pelo ar, sem necessidade de o assustar tanto. Disse isto a Ami.

- Você se engana. Milhares de pessoas já viram passar nossas naves, mas hoje em dia não se lembram. Se no momento em que nos viram estavam muito pre-ocupadas com seus assuntos corriqueiros, olhavam-nos quase sem nos ver, depois, esqueceram. Temos estatísticas impressionantes a esse respeito.

- Por que é preciso que esse homem nos veja?

- Não sei exatamente, talvez seu testemunho seja importante para alguma outra pessoa interessante, especial; ou talvez, ele mesmo o seja. Vou focalizá-lo com o "sensômetro".

Em outra das telas apareceu o homem, mas estava quase transparente. No centro do seu peito brilhava uma luz dourada muito linda.

- Que luz é essa?

- Podemos dizer que é a quantidade de amor que existe nele, mas não seria tão exato; é mais certo dizer que é o efeito que a força do amor exerce sobre a sua alma. E também seu nível de evolução. Ele tem setecentas e cinquenta medidas.

- E isso o que significa?

- Que ele é interessante.

- Interessante por quê?

- Porque seu nível de evolução é realmente bom... para ser um terrícola.

- Nível de evolução?

- Seu grau de aproximação com o animal ou com o "anjo".

Ami focalizou um urso na tela, também transparente, mas a luz no seu peito brilhava muito menos do que a do homem.

- Duzentas medidas -precisou Ami. Depois focalizou um peixe. Desta vez a luz era mínima.

- Cinquënta medidas. A média dos seres humanos da Terra é de quinhentas e cinqüenta medidas.

- E você, quantas medidas tem, Ami?

- Setecentas e sessenta medidas -respondeu.

- Só dez a mais do que o caçador! -surpreendi-me pela pouca diferença entre um terrícola e ele.

- Claro. Temos um nível parecido.

- Mas se supõe que você deva ser muito mais evoluído do que os terrícolas.

- Na Terra as pessoas variam entre trezentas e vinte e oitocentas medidas.

- Algumas mais do que você!

- Claro que sim. A vantagem que eu tenho consiste no fato de que eu conheço certas coisas que eles ignoram, mas aqui existem pessoas muito valiosas: mestres, artistas, enfermeiras, bombeiros...

- Bombeiros?!

- Você não acha nobre arriscar a própria vida pelos demais?

- Você tem razão, mas meu tio, o que é físico nuclear, também deve ser muito valioso...

- Famoso talvez... A que se dedica seu tio, dentro da física?

- Está desenvolvendo uma nova arma, um raio ultra-sônico.

- Se ele não acredita em Deus, e além disso se dedica à fabricação de armas... penso que tem um nível bem baixo.

- O quê?! Mas ele é um sábio! -protestei.

- Você está confundindo as coisas de novo. Seu tio tem muita informação, mas ter informação não significa necessariamente ser inteligente, e muito menos um sábio. Um computador pode ter armazenado muita informação, mas nem por isso é inteligente. Você acha muito sábio um homem que cava uma fossa, ignorando que ele mesmo vai cair nela?

- Não, mas...

- As armas se voltam contra aqueles que as apóiam...

Não me pareceu muito evidente essa afirmação de Ami, mas decidi acreditar nele. Quem era eu para duvidar de sua palavra? Apesar disso, estava confuso... meu tio era meu herói... um homem tão inteligente...

- Tem um bom computador na cabeça, isto é tudo. Aqui existe um problema de terminologia: na Terra dizem inteligentes ou sábios aos que têm uma boa capacidade cerebral em só um dos cérebros, mas temos dois...

- O quê!

- Um na cabeça. Esse é o "computador", o único que vocês conhecem. O outro está no peito, não é visível, mas existe. É o mais importante, é essa luz que você viu pela tela no peito do homem. Para nós, inteligente ou sábio é aquele que tem ambos os cérebros em harmonia, mas isso quer dizer que o cérebro da cabeça, está a serviço do cérebro do peito, e não ao contrário, como na maioria dos "inteligentes".

- Tudo isso me surpreende, mas agora entendo melhor. O que acontece com aqueles que tem mais desenvolvido o cérebro do peito do que o da cabeça? -perguntei.

- Esses são os "tolos bons". São fáceis de enganar, é simples para os outros, os "inteligentes maus", como você dizia, colocá-los a fazer o mal enquanto pensam que estão fazendo o bem... o desenvolvimento intelectual deve estar em harmonia com o desenvolvimento emocional, só assim se produz um verdadeiro inteligente ou sábio. Só assim a luz pode crescer.

- E eu, Ami, quantas medidas tenho?

- Não posso lhe dizer.

- Por quê?

- Porque se teu nível for alto, você vai ficar vaidoso...

- AH!! compreendo...

- Mas se for baixo... você vai se sentir muuuuito mal...

- Ah...

- O orgulho apaga a luz... é a semente da maldade.

- Não entendo.

- Devemos tentar ser humildes... Veja, já estamos indo.

Instantaneamente estávamos de volta à cordilheira, aos Himalaias, situados do outro lado do planeta.

Capítulo 7 - Os avistamentos

Avançamos até um mar longínquo, ao qual chegamos em segundos e o atravessamos; apareceram umas ilhas, descemos sobre a cidade de Tóquio. Pensei que ia encontrar casas com telhados com as pontas para cima, mas o que mais havia era arranha-céus, modernas avenidas, parques, automóveis.

- Estamos sendo vistos -disse Ami, apontando a luz dos controles acesa.

Na rua, as pessoas começavam a amontoar-se, apontavam-nos com a mão. Novamente se acenderam as luzes exteriores de várias cores. Estávamos realmente alto, ficamos uns dois minutos ali.

- Outro avistamento -disse Ami, observando os sinais que apareciam na tela- Vamos ser transladados.

Subitamente, a luz do dia se apagou. Só ficaram as estrelas cintilando detrás dos vidros.

Embaixo não se viam grandes coisas. Uma pequena cidade, longe, algumas poucas luzes, um caminho pelo qual vinha um automóvel. Fui até a tela que estava na frente de Ami. Ali aparecia o panorama perfeitamente iluminado. O que à simples vista não se distinguia, devido à escuridão, no monitor era perfeitamente claro; assim percebi que o automóvel era verde e que nele viajava um casal.

Estávamos a uns vinte metros de altura, éramos visíveis, segundo indicavam os controles.

Decidi daí em diante aproveitar essa tela. Era mais nítida do que a própria realidade.

Quando o veículo se aproximou de nós, parou, estacionou ao lado do caminho e seus ocupantes desceram, começaram a gesticular e a gritar enquanto nos olhavam com os olhos arregalados.

- O que estão dizendo? -perguntei.

- Estão pedindo comunicação, contato. São um casal de estudiosos dos "ovnis", ou melhor, "adoradores de extraterrestres".

- Então, comunique-se - disse eu, preocupado pelo nervosismo dessas pessoas. Ajoelharam e rezavam, ou algo assim.

- Não posso, tenho que obedecer às ordens estritas do "plano de ajuda". A comunicação não se produz quando qualquer um deseja, senão quando se decide do "alto"; além disso, também não posso ser cúmplice de uma idolatria.

- O que é idolatria?

- Uma violação a uma lei universal -respondeu Ami, muito sério.

- Em que consiste? -perguntei, intrigado.

- Somos considerados deuses.

- O que isso tem de mal?

- Só se deve venerar a Deus, o resto é idolatria. Seria muita falta de respeito de nossa parte se usurpássemos o lugar de Deus, frente à distorcida religiosidade dessas pessoas. Se fôssemos considerados como irmãos, seria outra coisa.

Pensei que Ami pudesse ensinar a verdade ao casal.

- Pedrinho -respondeu a meus pensamentos-, nos mundos incivilizados do universo se cometem ações que nos parecem terríveis. Neste preciso momento, estão queimando vivas muitas pessoas, porque outros pensam que elas são "hereges"; isso está acontecendo em muitos planetas, como aconteceu aqui na Terra, há centenas de anos. Neste mesmo momento, debaixo do mar, os peixes estão comendo-se vivos uns aos outros. Este planeta não é muito evoluído. Assim como as pessoas têm diferentes níveis evolutivos, também os planetas. As leis que regem a vida nos mundos inferiores nos parecem brutais. A Terra a milhões de anos, estava regida por outros tipos de leis, tudo era agressivo, venenoso, tudo tinha garras e presas; hoje, que se atingiu um nível de evolução mais avançado, existe mais amor, mas ainda não se pode dizer que este seja um mundo evoluído. Ainda existe muito brutalidade.

Ami sintonizou uma tela e apareceram algumas cenas de guerra. De uns tanques, os soldados lançavam mísseis contra alguns edifícios, destruíndo-os, junto com as crianças, mulheres e homens que os habitavam.

Isto está acontecendo agora mesmo num país da terra, mas não podemos fazer nada. Na evolução de cada planeta, país ou pessoas, não podemos interferir. No fundo, tudo é aprendizagem. Fui uma fera e morri destroçado por outras feras; fui um ser humano de baixo nível, matei e me mataram, fui cruel, recebi crueldade. Morri muitas vezes; fui aprendendo aos poucos a viver de acordo à Lei fundamental do universo. Agora minha vida é melhor, mas não posso ir contra o sistema de evolução que Deus criou. Esse casal está violando uma lei universal, ao comparar-nos com alguém tão grande e majestoso como Deus. Retiram seus sentimentos de veneração e amor ao Criador e os dirigem para nós... Os soldados que vimos, também violam uma lei universal: "não mataras". Eles deverão pagar por seus erros e, assim, pouco a pouco irão aprendendo. Somente quando uma pessoa ou um mundo conseguiu atingir certo nível evolutivo, pode receber nossa ajuda, sem que seja uma violação ao sistema evolutivo geral.

Na verdade, não compreendi nem meia palavra do que Ami disse, somente mais tarde, pensando, foi que percebi tudo com mais clareza, muito depois de sua partida; foi então que pude escrever mais ou menos como ele disse.

Enquanto esperávamos que o "super-computador" nos retirase dali, Ami sintonizou a televisão japonesa. Com o seu bom humor habitual observava um programa de notícias. Aparecia um reporter que entrevistava, microfone na mão, as pessoas na rua. Uma senhora falava gesticulando e apontava para o céu. Não entendi nada, mas percebi que relatava seu encontro com o "ovni"... o nosso. Outras pessoas também comentavam sua versão do fenômeno.

- O que estão dizendo? -perguntei.

- Que viram um "ovni"... tem cada louco... -opinou sorrindo.

Depois apareceu um senhor com óculos que fazia desenhos num quadro-negro enquanto dava explições. Representava o sistema solar, a Terra e os demais planetas. Ficou falando muito tempo. Soube que era um cientista especialista em astronomia. Parecia que Ami entendia essa língua, porque estava muito distraído olhando o programa, talvez utilizando o "tradutor".

- O que está dizendo? -voltei a perguntar.

- Que em função de tudo o que explicou, está "cientificamente demonstrado" que não existe vida inteligente na galáxia inteira, excetuando a Terra... Também disse que as pessoas que viram o suposto "ovni" sofreram uma alucinação coletiva, e lhes recomendou uma visita ao psiquiatra...

- De verdade? -perguntei.

- De verdave -respondeu rindo.

O cientista continuava falando.

- O que ele está dizendo agora?

- Que possivelmente exista uma civilização "tão avançada" como esta, mas uma a cada duas mil galáxias, segundo os cálculos.

- E isso que significa?

- Que quando ele souber que somente nesta galáxia existem milhões de civilizações, o coitado vai ficar louco, pior do que já está...

Rimos um bom tempo. Para mim foi muito cômico, escutar um cientista dizendo que os "ovnis" não existem... e eu olhando o programa de dentro de um "ovni".

Ficamos aproximadamente uma hora naquele lugar, até que a luz da invisibilidade se apagou.

- Estamos livres.

- Então podemos continuar passeando? -perguntei.

- Claro. Aonde você gostaria de ir agora?

- Hummm... deixa eu ver... à ilha de Páscoa!

- Lá é noite... veja - já tínhamos chegado.

- Ilha da Páscoa?

- Exatamente.

- Que rápido!

- Você acha rápido? Espere... agora olhe pela janela.

Estávamos sobre um deserto muito estranho. O céu estava muito escuro, quase negro, exceto pelo brilho azulado da lua.

- O que é isto, Arizona?

- Isto é a lua.

- A lua?

- A lua.

Olhei para o que pensei que fosse a lua.

- ... Então isso...

- Isso é a Terra.

- A Terra!

- A Terra. Lá dorme a sua vovó...

Estava fascinado. Era na realidade a Terra, tinha uma cor azul claro. Pareceu-me incrível que uma coisa tão pequena pudesse conter tantas coisas grandes, montanhas, oceanos. Sem saber o porquê, apareciam imagens arquivadas em minha memória; recordei um riacho da minha infância, uma parede coberta de musgo, umas abelhas num jardim, um carro de boi numa tarde de verão... tudo isso estava lá, nesse pequeno globo azul que flutuava entre as estrelas.

De repente vi o sol, um astro longínquo, mas bem mais incandescente do que na Terra.

- Por que se vê tudo pequeno?

- Porque aqui não existe uma atmosfera que atue como lente de aumento, como lupa; por isso, na Terra se vê maior do que aqui, mas se não fosse pelos vidros especiais desta nave, esse pequeno sol o queimaria, justamente porque não tem uma atmosfera que filtre certos raios que são nocivos para você.

Não gostei dessa visão da lua. Vista da Terra parecia mais linda. Era um mundo solitário, tenebroso.

- Não poderíamos ir a um lugar mais bonito?

- Habitado? -perguntou Ami.

- Claro!... Mas sem monstros...

- Para isso temos que ir bem longe.

Mexeu nos controles, a nave vibrou suavemente, as estrelas se esticaram, transformando-se em linhas luminosas; depois, pelas janela apareceu uma neblina branca e brilhante que reverberava.

- O que está acontecendo? -perguntei um pouco assustado.

- Estamo-nos situando...

- Situando onde?

- Em um longínquo planeta. Temos que esperar uns minutos. Por enquanto, vamos escutar um pouco de música.

Ami tocou um pouco nos controles. Suaves e estranhos sons encheram o recinto. Meu amigo fechou os olhos e se dispôs a escutar com prazer.

Eram todas bem diferentes das que eu havia conhecido até então. De repente, uma vibração muito baixa e sustentada chegava a fazer vibrar a sala de comandos, depois uma nota agudíssima soou, o silêncio durava alguns segundos. Depois se escutavam notas rápidas que subiam e baixavam, outra vez a mais grave que se agudizava aos poucos, enquanto uma espécie de rugidos e alguns sininhos mantinham um rítmo variado.

Ami parecia em êxtase. Imaginei que conhecia muito bem aquela "melodia", porque com os lábios ou leves movimentos de sua mão se adiantava o que escutaríamos logo.

Lamentei interrompê-lo, mas não gostei nada daquela "música".

- Ami -chamei. Não respondeu; estava muito concentrado nessa espécie de interferência elétrica de um rádio de onda curta...

- Ami -insisti.

- Oh, desculpe!... sim?

- Desculpe-me, mas eu não gosto.

- Claro, é natural; o desfrutar essa música requer uma "iniciação" prévia... Vou procurar algo que lhe pareça mais conhecido. Tocou outro ponto dos controles. Surgiu uma melodia que me agradou imediatamente, tinha um ritmo muito alegre. O instrumento principal tinha o som parecido ao da chaminé de um trem a vapor a toda velocidade.

- Que agradável!... Que instrumento é esse que se parece a um trem?

- Meu Deus! -exclamou Ami fingindo horror-, você acaba de ofender a garganta mais privilegiada do meu planeta, confundindo sua voz com o barulho de um trem!

- Desculpe-me, por favor... não sabia... mas sopra mesmo bem! -disse, procurando consertar a situação.

- Blasfemo! Herege! -fingia, puxando os cabelos- dizer que a glória do meu mundo... sopra!

Terminamos explodindo em gargalhadas...

Aquela música animava a gente a dançar.

- Para isso foi feita -disse Ami- Dancemos! -levantou-se de um salto e começou a dançar batendo palmas.

- Dance, dance -animáva-me- solte-se. Você quer dançar, mas aquilo que você não é, não lhe permite... aprenda a conquistar a liberdade de ser você mesmo, libere-se...

Deixei de lado a minha timidez natural e comecei a dançar com grande entusiasmo.

- Bravo! -felicitava-me.

Dançamos um bom tempo. Sentia-me alegre, foi como quando corremos e saltamos na praia. Depois a música terminou.

- Agora algo para nos relaxar -disse Ami, dirigindo-se para os controles. Apertou outro ponto e se escutou uma música clássica. Pareceu-me familiar.

- Ei, isso é terrícola.

- Claro, Bach, é fabuloso, você não gosta?

- Acho que... sim. Você também gosta?

- Obviamente, ou não o teria na nave.

- Pensava que tudo o que nós temos era "incivilizado" para os extraterrestres...

- Você está muito enganado -tocou outro ponto dos controles.

"... imagine there's no countries it isn't hard to do..."

- Mas esse é John Lennon... Os Beatles...!

Estava muito surpreso, porque começava a pensar que na Terra não existia nada de bom.

- Pedrinho, quando a música é boa, ela o é universalmente. A boa música da Terra é colecionada em várias galáxias, assim como a de qualquer mundo e de qualquer época. A mesma coisa acontece com todas as artes. Nós guardamos filmes e gravações de tudo quanto se realiza no seu planeta... A arte é uma linguagem de amor, e o amor é universal... escutemos.

"imagine all the people living life in peace..."

Ami, com os olhos fechados, parecia desfrutar cada nota.

Quando John Lennon terminou de cantar, já tínhamos chegado por fim a outro mundo habitado



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