sábado, 6 de agosto de 2011

A Árvore




“Retrato da Fé” – Maria Dolores, através de Chico Xavier

Ao homem que tombara em desalento,

Crendo-se velho, inútil e sozinho,

Deus permitiu pudesse escutar, certa feita,

Grande árvore seca, mas de pé,

Que lhe falou, num cântico de fé,

À beira do caminho:

- Amigo, ergue-te e segue... Deus nos vê.

Não perguntes por que

A velhice aparente nos recobre...

Muitos passam aqui, parando na viagem...

Lamentam-me a nudez, dizem-me triste e pobre,

Entretanto, ainda guardo

A seiva da esperança e da coragem

Que Deus criou em mim.

Um dia fui esplêndido jardim,

Os pássaros cantavam nos meus braços,

Depois voavam, devorando espaços,

Em seguida, tornavam da distância

A me pedirem ninhos!

Com que amor lhes guardava os filhotinhos!

Louvava o Excelso Pai por minha mocidade

E orava a oferecer-lhe a minha gratidão

Sob a forma de flores

Do júbilo profundo,

Quando se tem no mundo

A paz do coração!...

Deus aceitava as minhas preces,

Transformando-as em frutos

Para todos aqueles que passassem...

Quantos homens vieram e os colheram!

Muitos nobres e bons, outros fracos e brutos

Que me varavam, galho a galho,

Sem refletirem no trabalho

Que Deus tivera em me formar...

Mas nada perguntei a eles quanto a isso,

Todos somos de Deus para a luz do serviço

Tendo por privilégio o dom de trabalhar.

Minha copa era grande... Era um vertido

Todo ele a vibrar, entretecido

De folhas semelhantes a esmeraldas...

Por isso mesmo, ante o verão candente,

Alegrava-me ouvindo a voz de tanta gente

Que me buscava o teto, assim como se busca

A brandura da fonte

Quando o sol nos ofusca,

Lembrando águia de fogo

Fugindo sem cessar ao pouso do horizonte!

Depois, o tempo veio...

Tudo parece haver levado!

Meu corpo agora é nodulado e feio,

Mas creio em Deus e firmo-me de pé,

Porque Deus certamente me deseja

Para qualquer tarefa benfazeja...

Talvez que este meu corpo feio e nodulado

Possa servir de apoio certo e amigo

Para algum pássaro cansado

Que esteja ao desabrigo...

Não sei qual o destino a que o Céu me conduz,

Se algum machado bronco

Surgirá, de repente, a decepar-me o tronco,

Para que eu volte ao Alto, em espiras de lume

Na forma de calor ou de perfume

Em alguma fogueira que me aguarde.

E nem sei se serei aproveitada

Em singela choupana

Que me acolha, mais tarde,

Para ajudar a nobre vida humana!

Nada sei do porvir,

Sei que pertenço a Deus e que devo servir...

O Homem que se cansara sem razão

Levantou-se do chão,

Fitou o mundo em torno!

Do verme ao firmamento e do lodo ao cascalho

Tudo era vida e luz, regozijo e trabalho...

No pranto de emoção

Que a alegria lhe dava ao coração,

Exclamou para os Céus:

- Sê louvado, Senhor!...

Num lenho que julguei largado e semimorto,

Deste-me nova fé, visão, auxílio, reconforto!

Perdoa-me, Senhor, a rebeldia,

Esquece todo o mal que fiz nos erros meus!

E pelo doce amor

Que esta árvore, a sós, entesoura e irradia,

Obrigado, meu Deus!